21a. EDIÇÃO -" Duas vidas e seus destinos"

Foto retirada do site Olhares

Cheguei na estação de trem e fico sabendo que houve um acidente. Vou ter que esperar os trens voltarem a funcionar para poder ir para casa. Olho para o lado e vejo um banco onde está sentado um senhor quase fechando os olhos. 

Trabalhei muito hoje naquela loja, passei o dia todo em pé que tive que tirar os sapatos e colocar estas sandálias para agüentar a caminhada de volta para casa. Agora não adianta ficar reclamando e o que me resta é aproveitar para descansar um pouco sentada ao lado deste senhor que também deve ter tido um dia cansativo.

Que alívio para meus pés poder relaxar neste banco, mas estou preocupada porque não estou vendo movimento algum e esta estação está mais parecendo uma sala de espera de uma empresa em processo seletivo.

Parece até que fiquei traumatizada do tanto que esperei nestas salas até conseguir o emprego na “Leevic’s”, mas agora estou muito satisfeita só de poder estar empregada. Gostaria de trabalhar com publicidade, já que foi a faculdade que fiz, mas o mercado não dá chances a iniciantes e o que me restou foi aceitar este trabalho que, pelo menos, paga as minhas contas. Tenho fé que com o tempo, fazendo cursos de extensão, aprimorando o meu Inglês possa conseguir entrar neste mercado. Mamãe sempre me dizia que lutar para conseguir alcançar nossos objetivos faz com que valorizemos as pequenas coisas da vida.  

Já são quase nove horas e meu estômago está roncando de fome. Como gostaria de poder dar uma cochilada igual ao senhor ao meu lado para deixar de pensar na fome e não sentir o tempo passar. O que será que ele faz? Trabalha de terno e gravata, está carregando uma pasta o que pode significar vários tipos de atividades. Será que é um advogado? Poder ser um gerente ou até um vendedor. É pode ser muita coisa e com certeza com muita experiência, pois me parece ter mais de cinqüenta anos. Fico aqui imaginando o que este senhor possa ser e esqueci até de ligar para minha tia e avisar que vou me atrasar. Acredito que ela já deva estar imaginando que aconteceu alguma coisa ruim, pois tem essa mania. Espero que o celular tenha crédito para conseguir ligar. Estou tentando ligar para minha tia e, como imaginava, a ligação não completa quando escuto uma voz perguntando:

- Boa noite! Algum problema com o seu celular?

Levei até um susto quando ouvi aquela voz grossa no meio daquela estação vazia que provocou até eco.

- Boa Noite! Com o celular não, mas acho que meus créditos acabaram e estava tentando ligar pata minha tia para avisar que vou atrasar, disse respondendo ao senhor.

- Por favor pegue o meu celular e ligue para sua tia avisando.

Olhando para o senhor, que me pareceu tão gentil e simpático, aceitei um pouco sem graça e rapidamente fiz a ligação avisando.

- Não sei como lhe agradecer, pois minha tia já estava muito preocupada, disse devolvendo o celular.

- Que bom que já está tudo resolvido e não precisa agradecer porque não me custou nada em fazer isso. Talvez se estivesse lá fora tomando umas cervejas já teria gasto muito mais do que esses minutos usados numa boa causa.

- Estou aqui falando e nem me apresentei - sou Fernando, disse levantando a mão para me cumprimentar.

- Mariana, respondi aceitando o cumprimento.

Sorri olhando para o senhor o que me fez lembrar do que havia pensado tentando adivinhar em que trabalhava. Para matar minha curiosidade fui logo perguntando:

- Fernando com que trabalha? desculpe perguntar, mas antes estava aqui observando e imaginando qual seria a sua atividade.

- Sou jornalista, trabalho na “Revista Barcelona” como redator da seção de variedades e hoje tive que correr para encerrar o texto, fechar a seção e entregar para edição.

Aquela resposta me encheu de alegria, pois jamais poderia imaginar que ao meu lado estava um jornalista e que trabalhava numa revista tão conceituada. Começamos a conversar sobre diversos assuntos inclusive de trabalho, o que eu fazia, em que me formei, o quanto queria ingressar no mercado de publicidade e como fiquei feliz em ouvir suas histórias, suas experiências e saber tanto das coisas boas como também das dificuldades que tinham que enfrentar nesse ramo.

A conversa foi se estendendo e, como mágica, ouvimos o som do apito do trem que já estava chegando na estação.

Seguimos a viagem numa conversa animada, trocamos cartões e cada um saltou em sua estação rumo as suas casas e ao tão merecido descanso.

A vida é surpreendente e nos mostra, em pequenos contratempos, que independente do que hoje estamos fazendo o nosso destino já está traçado.

*Escrito por Irene Moreira*

Participação 21a. Edição Projeto Palavras Mil

"O homem é capaz de promover muitas ações,

mas as maiores é o destino que as dirige pessoalmente."
(Henrik Ibsen)

Imagem google